O Desejo e sua Interpretação



"No homem, o desejo está fora da relação amorosa. A forma acabada dessa relação supõe, de fato, que o sujeito dê o que não tem, o que é a própria definição do amor. Em contrapartida, a forma ideal do desejo, se me permitem, realiza-se nele quando ele reencontra o complemento de seu ser na mulher, na medida em que ela simboliza o falo. 


No amor, o homem fica verdadeiramente alienado ao objeto de seu desejo, ao falo. No ato erótico, contudo, esse mesmo falo reduz a mulher a ser um objeto imaginário. Por Isso é que o próprio âmago da relação amorosa mais profunda, mais íntima, mantém-se no homem a duplicidade do objeto. Insisti nisso muitas vezes quando criticava a famigerada relação genital. 


Por outro lado, a relação da mulher com o homem, que todos gostam de crer muito mais monogâmica, não deixa de apresentar a mesma ambiguidade - com a ressalva de que a mulher encontra no homem o falo real. Está, portanto, em condições de obter efetivamente no casal uma relação de gozo que satisfaça seu desejo.

Mas justamente na medida em que a satisfação do desejo se dá no plano real, o amor da mulher, não seu desejo, volta-se para um ser que está para além do encontro do desejo - a saber, o homem enquanto privado do falo, o homem que, precisamente, por sua natureza de ser completo, de ser falante, é castrado." 
( Lacan, Seminário VI: o desejo e sua Interpretação. 
(1958-1959)


 Psicólogo
 Clóvis Couto Barreto Júnior CRP-03/13147
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