Depressão na Menopausa
É a sensibilidade individual, possivelmente, uma das questões mais importantes no desenvolvimento da depressão na menopausa. Dessa sensibilidade fazem parte as idiossincrasias pessoais, capazes de vulnerabilizar a mulher às alterações hormonais, tal como acontece na Tensão Pré Menstrual ou na Depressão Pós-parto, o psicodinamismo próprio de cada pessoa e a capacidade afetiva de cada um para adaptação às diversas fases da vida. Aqui importam a adaptação emocional à menopausa, os conflitos atuais e passados e o perfil afetivo pregresso da paciente.
Nicol (1996), revendo 94 artigos dos últimos 30 anos, considera os dados insuficientes para dizer-se, com certeza, ser a menopausa a causa da depressão em mulheres que atravessam esse período evolutivo. Há uma tendência recente em considerar os sintomas da menopausa como sendo causados pela combinação de vários fatores e não apenas à falência ovariana. Valorizam-se as alterações orgânicas possíveis no climatério, influências culturais, sensibilidade individual e dificuldades sociais, entre outros bons motivos para a sintomatologia menopáusica (Robinson, 1996).
Incidência
Evidentemente não se pode falar ainda, com certeza, numa determinada incidência da síndrome sintomática da menopausa. Não se pode falar em incidência por não se ter um consenso entre os autores sobre quais seriam, exatamente, os sintomas da menopausa. Ora, não se chegando a um acordo sobre quais são os sintomas seguramente associados à menopausa não será possível estabelecer-se, com certeza, qual seria sua incidência baseada num quadro clínico.
Porter (1996), por exemplo, representando autores mais generosos, detecta um quadro menopáusico significativo em 57% das mulheres, tomando por base uma lista de 15 sintomas associados à menopausa. Dessas pacientes, apenas 22% atribuíram importância relevante às suas queixas e nem sempre associavam, por si mesmas, a depressão emocional como um dos sintomas atrelados ao quadro menopáusico, embora este sintoma estivesse fortemente presente.
A idade média para aparecimento da menopausa, segundo pesquisa com 268 mulheres na Inglaterra, foi de 50,13 anos (Punyahotra, 1997). Outros autores preferem não estabelecer uma idade média para a menopausa, tendo em vista as inúmeras variáveis individuais. Cramer (1996) parte do princípio que uma mulher deve experimentar uma média de 300 ciclos durante sua vida. As variáveis que considera significativas para a menopausa mais precoce são o tabagismo, a depressão emocional, a ooforectomia em adulta jovem e a história familiar de menopausa precoce. Portanto, na década de 90 corrobora-se a idade média para a menopausa como sendo a mesma calculada há muitas décadas, ou seja, em torno dos 50 anos.
Fatores Predisponentes e Fisiopatológicos
Apesar dos achados hormonais não estarem diretamente relacionados às alterações emocionais, Saletu e cols. (1996), mediante minucioso trabalho em 129 mulheres menopausadas, concluíram que baixos níveis de estradiol contribuem para a diminuição do nível de vigilância neurofisiológica a qual, por sua vez, se relacionaria com a sintomatologia depressiva da menopausa. Este nível de vigilância neurofisiológica foi criteriosamente avaliada eletroencefalograficamente e a depressão associada à tal achado correlacionou-se com uma hiperatividade frontal direita e hipoatividade frontal esquerda
Arpels (1996), pesquisa casos de Tensão Pré-menstrual, de Depressão Pós-parto e Depressão Peri-menopáusica e menopáusica, relacionando os sintomas emocionais próprios desses períodos como sendo a depressão, distúrbios do sono, irritabilidade, ansiedade, pânico e distúrbios de memória. Adepto da idéia acerca da influência estrogênica sobre o sistema nervoso, esse autor chega a afirmar que o cérebro, em mulheres, é um órgão alvo do estrogênio ("the brain in women has been shown to be an estrogen target organ").
Contra-indicações da Terapia Hormonal
A Terapia por Reposição de Estrogênio (TRE) está formalmente contra-indicada nas mulheres com história de hemorragias vaginais ou acidentes vasculares, do tipo trombo-embólicos (tromboses, embolias e varizes ou hemorróidas graves).
Quando começar e quando parar com hormônios
Em geral a menopausa, em caráter estrito, é definida clinicamente como um período de seis meses de amenorréia (sem menstruações). Caso não haja história de sangramentos vaginais anormais, a TRE pode ser iniciada nessa fase. Ocasionalmente o tratamento pode ter início antes do período de amenorréia, caso existam sintomas incômodos, tais como as ondas de calor e crises de ansiedade, choro ou angústia que antes não existiam.
Atualmente os testes de Densitometria Óssea, que calculam a perda de cálcio dos ossos, tem sido um dos fatores determinantes para o início do tratamento hormonal. Normalmente esse exame é mais decisivo do que a constatação de alterações hormonais no exame de sangue (dosagem de FSH).
Terapia Antidepressiva
A terapia antidepressiva para mulheres peri ou menopáusicas tem indicação formal quando se detectam sintomas depressivos de moderados a graves. Se essa terapia se dará isoladamente ou associada aos hormônios é uma questão que deve ser avaliada para cada caso. De qualquer maneira, essa associação costuma resolver a expressiva maioria dos casos de grave Depressão na Menopausa
para referir:
Ballone GJ, Moura EC - Depressão na Menopausa , revisto em 2008
BIBLIOGRAFIA
1. Armstrong L, Topics in Drug Therapy, Volume 35, Number 6, 1997 Jun.
2. Arpels JC - The female brain hypoestrogenic continuum from the premenstrual syndrome to menopause. A hypothesis and review of supporting data - J Reprod Med, 41:9, 633-9, 1996 Sep.
3. Baker A; Simpson S; Dawson D - Sleep disruption and mood changes associated with menopause - J Psychosom Res, 43:4, 359-69, 1997 Oct.
4. Bebbington PE; Dunn G; Jenkins R; Lewis G; Brugha T; Farrell M; Meltzer H - The influence of age and sex on the prevalence of depressive conditions: report from the National Survey of Psychiatric Morbidity - Psychol Med, 28:1, 9-19, 1998 Jan.
5. Carranza Lira S; Murillo Uribe A; Martínez Trejo N; Santos González J - Changes in symptomatology, hormones, lipids, and bone density after hysterectomy - Int J Fertil Womens Med, 42:1, 43-7, 1997 Jan.
6. Cohen LJ. Rational drug use in the treatment of depression. Pharmacotherapy; 17: 45-61,1997.
7. Malacara JM; Huerta R; Rivera B; Esparza S; Fajardo ME - Menopause in normal and uncomplicated NIDDM women: physical and emotional symptoms and hormone profile - Maturitas, 28:1, 35-45, 1997 Sep.
8. Nicol Smith L - Causality, menopause, and depression: a critical review of the literature - BMJ, 313:7067, 1229-32 , 1996 Nov.
9. Pearce J; Hawton K; Blake F; Barlow D; Rees M; Fagg J; Keenan J - Psychological effects of continuation versus discontinuation of hormone replacement therapy by estrogen implants: a placebo-controlled study - J Psychosom Res, 42:2, 177-86, 1997 Feb.
10. Pearlstein T; Rosen K; Stone AB - Mood disorders and menopause - Endocrinol Metab Clin North Am, 26:2, 279-94, 1997 Jun.
para referir:
Ballone GJ, Moura EC - Depressão na Menopausa , revisto em 2008
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8. Nicol Smith L - Causality, menopause, and depression: a critical review of the literature - BMJ, 313:7067, 1229-32 , 1996 Nov.
9. Pearce J; Hawton K; Blake F; Barlow D; Rees M; Fagg J; Keenan J - Psychological effects of continuation versus discontinuation of hormone replacement therapy by estrogen implants: a placebo-controlled study - J Psychosom Res, 42:2, 177-86, 1997 Feb.
10. Pearlstein T; Rosen K; Stone AB - Mood disorders and menopause - Endocrinol Metab Clin North Am, 26:2, 279-94, 1997 Jun.
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Clóvis Couto Barreto Júnior CRP-03/13147
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